Quando mais é mais: tirar partido da diversidade das espécies para avançar para uma aquicultura sustentável

O crescimento da população humana aumentou a procura de produtos alimentares, que deverá duplicar nas próximas décadas. Até há pouco tempo, esta procura foi satisfeita através da expansão da superfície agrícola e da intensificação da monocultura à base de produtos agroquímicos de algumas espécies. No entanto, esta via de desenvolvimento tem sido criticada devido aos seus impactos negativos no ambiente e noutras atividades humanas. Por conseguinte, são necessárias novas práticas de produção para satisfazer as necessidades alimentares humanas de forma sustentável no futuro. Neste contexto, afirmamos que as práticas policulturais podem assegurar a transição da aquicultura para um desenvolvimento sustentável. Analisamos as práticas policulturais tradicionais e recentes (lagoas, sistemas de aquicultura recirculados, aquicultura multitrófica integrada, aquaponia, agricultura integrada e aquicultura), a fim de destacar a forma como melhoram a aquicultura através da coexistência e das interações das espécies. Esta panorâmica salienta a importância da compatibilidade das espécies (ou seja, espécies que podem viver no mesmo ambiente agrícola sem interações prejudiciais) e da complementaridade (ou seja, a utilização complementar dos recursos disponíveis e/ou o comensalismo/mutualismo) para alcançar uma aquicultura eficiente e ética. De um modo geral, a policultura combina aspetos da produtividade, da proteção do ambiente, da partilha de recursos e do bem-estar dos animais. No entanto, devem ser enfrentados vários desafios para facilitar o desenvolvimento da policultura em todo o mundo. Desenvolvemos um quadro conceptual em quatro etapas para a conceção de sistemas policulturais inovadores. Este quadro salienta a importância de (i) utilizar abordagens prospetivas para considerar quais as espécies a combinar, (ii) realizar uma avaliação integrada dos ambientes de criação para determinar em que sistema agrícola uma determinada combinação de espécies é a mais relevante, (iii) desenvolver novos instrumentos e estratégias para facilitar a gestão do sistema de policultura e (iv) implementar a inovação em matéria de policultura para as partes interessadas pertinentes envolvidas nas transições aquícolas.